quinta-feira, 16 de julho de 2009

Todo Tempo do Mundo

Não sabia fazer feliz a longo prazo. E essa era sua sina.

Quando lhe falou suas estórias, e quantas o deixaram, ela não lhe falou nada. Olhou nos seus olhos, como quem o descobria, lhe abraçou e disse "Tudo bem"; e se beijaram naquela saleta com cheiro de infância.

Ele nunca queria entender o que estava acontecendo. Vivia sempre no instantâneo, para si, e de ajudar os outros a recordar; de câmera na mão, registrava tudo dos outros, e nada de si. Pois era instantâneo. Suas histórias não se perdiam em livros escritos para a posteridade; mas se aqueciam nos ouvidos de quem queria ouví-las. E ela queria. E ele contava, com seu jeito de garoto malandro que não negava que era tal.

Ela queria tudo e adorava todos os momentos, como quem sempre guarda uma lembrança. Era o motivo da fotografia, a modelo, a paisagem. Também pudera: era um mulherão digna de ser registrada. Já ia bem com seus vinte e poucos; não tinha tudo na vida, mas tinha sorriso de quem pode conseguir tudo. Era assim, daquelas que adoram não demonstrar seu stress, olheiras e noites mal durmidas, mostrando sempre um sorriso na cara; pra ele.

Se conheceram para lá de lá e foram aqui os dias de expedientes mal cumpridos no trabalho dele, risos bestas dela e histórias que não acabavam mais dos dois.

Então, ela pegou o avião sem avisar.

E ele ficou a tirar fotos do céu, como quem quer registrar uma eternidade.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Prólogo (Todo Tempo do Mundo*)

Caminhando por uma cidade que não era a sua, se viu como um homem que não era ele, com hábitos e jeitos que não eram seus e com uma fala estranha. Olhou-se bem no espelho, sentiu a vertigem de ter que se conhecer de novo e que talvez não houvesse tanto tempo para tal.

- Hahaha! Deixa de coisa, homem. Sabe o que você precisa? Dos braços de uma mulher para se acalmar - diziam seus irmãos, quase em coro, mesmo sem combinarem.

Atacou ferozmente seus velhos hobbies, com se quisesse conhecer um homem que já não conseguia encontrar, meteu com fotografia, música, corrida, papo solto; o resultado era um cansaço interminável e falta de tempo para tudo.

Resolveu, então, pegar um ônibus e ir descansar em outras paragens, encontrar pessoas queridas que não via há tempos. Pensava consigo mesmo que ia ouvir as palavras que mais estava odiando nesse momento de sua vida: "Nossa, como você está mudado...".

Ao chegar na rodoviária de seu destino, encontrou a mulher que mais amara em sua vida, e que o descobriu como ninguém olhando em seus olhos. A criatura pequena se aproximou, cheia de malas na mão:

- Quem é vivo sempre aparece, garotão! - ela o chamava assim, como se chama um de seus filhos.

- Pois é... e quem está vivo, está sempre pronto para partir - disse apontando para as malas que ela tinha nas mãos.

- Ah, isso? - ela levanta as malas - Isso é porque eu decidi viajar com o "grandão". E justo para sua cidade!

- "Grandão"?

- É. É o nome que dei a ele - e apontou o homem que comprava passagens em um dos guichês ao fundo do cenário.

- Seu novo namorado?

- Sim.

Estranhamente, aquela palavra afirmativa batera-lhe como um soco leve no seu queixo.

- A vida segue - disse ele, dando aquele sorriso malandro próprio de si.

- Pois é - respondeu aquele sorriso pequeno.

O homem grande no fundo do cenário acena com a mão, indicando algo como "comprei as passagens" ou "o ônibus já vai sair". Então, ela balança sua pequena cabeça afirmativamente para ele e me dá um grande abraço, mais do que seus braços pareciam poder dar. Então, ela me olha nos olhos e segura meu rosto com suas mãos pequenas e diz:

- Nossa, você não mudou nada.

Ao falar isso, levanta suas malas e sai. Ele fica prostrado por alguns minutos, como se estivesse em choque. Então, sai correndo para o guichê de fundo de cenário, compra uma passagem e corre para algum ônibus que está prester a partir.

...

Um casal, de aparência desproporcional, um homem enorme de seus 1,90 e uma mulher pequena de 1,53, se amassa no fundo do ônibus. A presença de um homem na frente deles, empurrando sua poltrona para trás, os incomoda. A mulher, pacientemente, ao contrário do homem, vai resolver delicadamente a situação com o cidadão.

- Olá, você... você?

- Eu.

- Você não tinha acabado de chegar.

- Sim.

- E por que já vai voltar?

- Porque já consegui o que queria.

A pequena olha intrigada para aquele garotão malandro sorrindo para ela e pergunta:

- E o que você veio buscar?

- Eu.

E encostou a cabeça para dormir como não dormia desde os tempos que parecia ter todo o tempo do mundo.


Gustavo Gabriel


* Texto postado no ehcadacoisaqueacontece.blogspot.com


sexta-feira, 3 de julho de 2009

El Otro y Yo*

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida"

Si la vida no fuera la arte del encuentro, como dijo Vinícius de Morais, yo estaría “fuera del lugar”. Pues pienso que los encuentros son la clave para encontrarnos a nosotros. Cada persona que conocemos un poco más (cuando hablo de encuentros no señalo aquellos momentos fugaces de “hola” y “adios” en que no llegamos a captar algo más profundo de las personas) marca nuestra alma y deja en nosotros parte de sí, ayudándonos a formar nuestro carácter.

El primer encuentro que tenemos en el mundo es con nuestros padres, cuando salimos del vientre de nuestra madre. Es determinante, pues el modo como ellos nos reciben en el mundo determinará por toda la vida, en nuestro subconsciente, muchos de nuestros encuentros, así como todos los encuentros también lo hacen, principalmente en nuestra infancia (donde construimos gran parte de nuestro carácter). También es claro que nuestra formación de carácter no puede ser determinada solo por un momento fijo en nuestra vida, pues grandes acontecimientos y encuentros sorprendentes pueden cambiar las cosas totalmente.

En mi vida todos los encuentros importantes, mismo con todos los desencuentros que podrían suceder después de ellos, me ayudaron a formar la visión de mundo que tengo hoy. Soy mucho do que soy gracias a las personas que pasaron de forma importante por mi camino. Creo que todos los hombres deban tener historias para contar sobre sus encuentros; mi esperanza es que todos aprendan a mirar para atrás y aprender con sus propias historias. El hombre es el hombre por el otro.

Gustavo Gabriel de Lima Silva


*O texto está em espanhol, porém é de fácil compreensão. Espero que gostem.