Ela dizia:
- Você é todo exagerado.
E cada vez que essas palavras saíam da boca dela, eu fazia uma cara de espanto. Eu não entendia, tinha 15 anos, e sempre fui um cara todo na média brasileira: 1,70m de altura; sangue O+, como todo bom latino-americano; notas que não passam de 8,5, mas não ficam abaixo de 6; um pinto entre seus 16 cm, ereto; reserva no futebol, titular no basquete; tocando musiquinhas de quinta categoria pra alegrar a roda de violão, nunca saindo um samba ou aquela bossa de cortar o coração. Mas eu era exagerado. Com meus 15 anos de idade.
Um dia, ela me deixou. Pensava que todo meu hiberbolismo a havia suprimido; eu estava crente nisso.
Ela virou e disse:
- Cansei. Você é muito comum.
E quando essas palavras saíram de sua boca, eu entendi. Tinha 1,80; 18 anos de idade; campeão do brasileiro de basquete; 1º lugar em engenharia elétrica no vestibular da federal; 20 centímetros de pinto, ereto; tocava samba nas quintas-feiras no barzinho mais famoso da cidade, abalando os corações de patrões e patroas. Só meu sangue não mudara.
Ou eu trocava meu sangue, ou ela trocava seu homem.
Ainda bem que ela escolheu o caminho mais fácil. Pra nós dois.
4 comentários:
titular no basquete? tá, se vc tá dizendo...
mas é isso aí..
eu tb me conformo de ser apenas um mediano.
Nunca me conformei com escritores medíocres. Por isso que vivo inconformado comigo mesmo.
Interessante a musicalidade, e a necessidade de usar a palavra "pinto" e suas medidas. E mais ainda isso fazer parte do ideal de homem perfeito.
O texto tem o pessimismo marcante da escrita de Gustavo.
; D
não to comentando essas coisas sobre meninas
muito menos sobre homens medíocres
Sabe...acho que não estou apita a comentar sobre um escrito que tenha citado "pinto" mais de uma vez neste exato momento.
Só quero dizer uma coisa...a mediocridade não me tem dado bons frutos...antes só fora da zona comum do que mais um par de pessoas na média!!
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