sábado, 16 de janeiro de 2010

Os Dias

[Primeira pessoa]

Quando acordei vi aquela pilha de cuecas para lavar e, claro, veio o desgosto. Minha irmã olha para mim e diz "Lave suas cuecas", "Amanhã eu lavo", respondi. Como toda aquela sua sabedoria de mulher criada para comandar a casa (e o mundo, diga-se de passagem) ela me falou "Você não sabe do amanhã". Sabedoria Salomânica, eu diria.

A noite, quando estou voltando para casa, chove. Chove muito. No cruzamento da ladeira, um gaiato enfia a cabeça do seu carro no meio da pista para, talvez, enxergar melhor, talvez se impor. Pé no freio, os quatro dentro do carro balançam, eu balanço, meu velho e forte Gurgel Carajás 84 balança também e nos danamos no meio-fio; para salvar a pele do gaiato.

Eu posso não saber do amanhã, mas de uma coisa eu sei: lave suas cuecas enquanto você tem tempo, pois, praga de irmã é forte. Bem forte.

ps.: Se me perguntarem se eu tenho medo de morrer, eu respondo: Eu tenho medo é da bronca do meu velho amanhã. E Tenho dito.