segunda-feira, 30 de março de 2009

Bola do Mundo

Era o momento esperado.

- E aí?! Cabou a maldita aula?!
- Cabou, macho! Ramuembora!

E era a carrera, o sol quente e torando no centro das nossas cabeças. Mas a nossa ansiedade superava isso, a sede, o asfalto flamenjante.
Chegávamos em casa com um confiança extrema, e todos lá de casa já sabiam o que nós iríamos fazer: correr para a bola.
Sim! Era o jogo! Armávamos as chuteiras, vestiamos os uniformes apropriados (basicamente tirávamos a camisa, pelo calor do local) e eram as horas.

Mas se um dia eu me for embora, e forem comigo os hojes, os finais de manhã agitados, as conversas sobre mulher, as lamentações da semana frustrante, os jogos ficaram no coração, no nosso grande coração... vinte anos depois, tenho certeza que se estivermos vivos, e um dia olharmos um para a cara do outro, diremos para nós mesmos irmos embora à jogar.

Porque no final das contas nossas vidas foram feitas de jogos; e nós jogamos sempre para nos divertir.

A bola estava na mente, a bola era a mente e o que girava ao redor.
E vivam os novos jogadores.

Viva a nossa amizade.

sábado, 21 de março de 2009

"Quando a luz dos olhos meus..."

"²² São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; ²³ se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!" Mt 5.

Quero ter os olhos de uma criança; olhar para o teto ao acordar como se ele fosse novo para mim, mesmo que eu acordasse na mesma cama mais de trezentos dias por ano. Quero que meus olhos olhem para você e te digam que eu não te conheço e te aprecio, que não te invejo e que você tem algo a me dar e a me ensinar, simples ou complicadamente.

Quero ter os olhos de uma criança ao olhar para para dentro de mim. Ver que ainda falta o que viver, e que a vida não é tão complicada assim, se estou disposto a aprender. Saber que não posso aprender tudo, querendo aprender tudo; olhar para os meus braços e não saber que não posso abraçar o mundo. Olhar para os tamboretes da cozinha como minha ponte para o céu de chocolate.

Quero ter os olhos de uma criança. Os olhos que não perdem a luz se não confrontados com a mais terrível desesperança; (os olhos dos adultos não precisam das maiores agruras para perder a luz).

[Esses olhos infantis tem medo do escuro, porque o escuro é a ausência de luz. Nada mais.]

Quero ter os olhos de uma criança.
Olhos para me apaixonar intensamente e daqui para frente, para sempre.

Quero os olhos de uma criança, como o Rubem Alves.

quarta-feira, 4 de março de 2009

A infalível

Na sala de aula, as horas não passam. Era a hora da Revolução, com suas causas e consequências, e eu já estava perdendo a minha paciência, que não é de ouro. De repente, ao piscar o olho, no que parecia ser o começo de uma pescada, passa aquela divina criatura na porta.

Eu me vejo correndo para a porta, fazendo revolução, no meio da Revolução. Saio, me deparo com ela no fim do corredor, sem muito jingado, mas dona de alguma coisa que eu penso ser especial. Limpo a garganta, e digo em alto e bom som:

- Ô moçaaaa!
Ela se vira, assustada pelo repentino chamamento há no máximo 20 metros dela. Depois de alguns eternos segundos se recompondo, ela olha para aquele estranho ser. Um moço desarrumado, cara de sono típica dos universitários daquele setor; mas com um semblante gentil e um ar meio engraçado. Então, resolve perguntar:

- Que é?
Ele abre um sorriso; daqueles sorrisos de homem que parece achar sempre estar destinado a triunfar. Diz, atenciosamente:

- Você esqueceu uma coisa...
Ela olha... pensa... vasculha a memória... olha para o corredor pelo qual havia acabado de passar... tentando achar o nexo naquela afirmação. Como não encontrava nexo algum, por achar que não tinha perdido nada, depois de alguns segundos de reflexão, ela perguntou (se rindo por dentro, achando tudo aquilo uma grande pegadinha):

- Ok, espertinho. O que eu esqueci?
E então, junto com aquele sorriso vitorioso, apareceram certa malícia e molejo inexplicáveis, que vinham com sua resposta:

- Ah, moça... foi de me levar com você...
Ela olhou para ele, perplexa. Ele olhou para ela, malandro.
E foram as risadas estridentes... a risada... o riso... o risinho... e aquela coisa estridente no fundo da cabeça, e a dor de cabeça...
E AQUELE MALDITO SINAL QUE NÃO PARA!

Cara amassada, final de aula. E aquele gosto de quero mais na boca que a gente tem depois de acordar dos bons sonhos.

Só que agora ele estava determinado.
Parecia invencível.

E tinha preparada para a divina criatura a cantada mais infalível do mundo

Dos sonhos.