A menina caminha levemente pelo corredor a meia luz; o desequilíbrio entre a luz e o escuro forma uma penumbra que mal permite ler as palavras no interior da caverna. Palavras é o que ela imagina serem, pois entre os milhões de rabiscos nas paredes e teto, só alguns estão na sua língua, outros nem parecem letras. Ela segue seu passo pluma, temeroso, porém contínuo, seu medo e desejo de ver o fim caminham juntos e os três avançam pelo chão molhado. Poucos metros, uns 10 passos e não sei quantos palmos ela percebe o corredor dilatar, o nariz e os pelos sentem o frio. Num espaço maior e sem forma, porque o escuro delineia o nada, ela vê a parca luz que reflete uma grande pedra escura. No outro escuro sentimos os últimos passos, um, dois, três. Os braços da menina levantam pesadamente cortando a ausência de luz. De olhos fechados, duas vezes cega, ela toca a grande pedra negra e sente todo calor do mundo. Calor de todos os fornos, de toda chama, de toda lava derretida, mas suas mãos não queimam. O ser humano é mais quente que todo o mundo.
João Gilberto N. Saraiva 291008.
2 comentários:
Eu me senti um vulcão.
Que nada rapaz, nós, homens somos café pequeno, ou melhor, fogo de palha perto delas.
Até mais ver.
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