terça-feira, 22 de setembro de 2009

Considerações [1]

"Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça"
Glauber Rocha

Nem vou mentir para mim, nem para vocês. Ultimamente tenho tido uma enorme preguiça de escrever. Talvez isso se deva a minha atual vontade de escrever mais com a luz do que com a caneta (ou, diga-se de passagem, com o teclado).

Então, bem que resolvi falar um pouco de mim, coisa até fácil de fazer; entretanto, vou fazer isso contando uma pequena história que tratará do meu contato com a fotografia.

É bem difícil quando a gente se apaixona, pois se apaixonar de verdade as vezes ultrapassa o âmbito do relacionamento com a própria pessoa, e você pode acabar se aproximando até mesmo das coisas que aquele outro querido gosta.

E foi assim.

Eu e Ela, Nós e os Outros

Estávamos os dois na sala de estar. Ambiente mui amplo, que já fora remodelado várias vezes, pois nem sempre foi sala de estar. Foi salão de beleza. Um lugar que agora só guardava os fantasmas daquela época de casa cheia. E foi nesse lugar que eu realmente vi que me apaixonara.

Não só pela moça, mas por tudo que ela fazia.

- Vamo tirar uma foto.
- Foto? Agora?
- É, agora. Num pode, oxe?
- Pode...

Tirei a pequena câmera digital de minha mãe da bolsa. Mais uma vez o brilho.
Ela mandou eu me posicionar assim, assado, para a gente ficar de um jeito de outro, para ter um resultado X na foto Y. Nunca pensei que uma simples foto de casal pudesse ser tão complicada de tirar.
Mas não era isso.
O brilho dos seus olhos mostrava que ela estava fazendo algo que gostava. Gostava não, amava. Ela amava registrar os momentos com a luz; aquela era sua palavra de ordem ao congelamento do tempo.
Mas o tempo do seres humanos não se congela e tudo debaixo do sol se acaba. Restam as memórias
e o que com elas conseguimos guardar. A moça passou a ocupar outro lugar no meu coração, entretanto
deixara uma marca forte como a sua existência.
Alguns meses depois me via negociando com um amigo nos EUA para ele me trazer minha primeira
câmera digital. Poucos meses adquiria minha primeira semi-profissional. Começava então um novo
hobby que gradativamente se transformaria e se confundiria num estilo de vida: registre; não importa,
simplesmente registre.
Esses dias eu estava registrando, poucos dias depois continuarei registrando, e até onde minha
ínfima existência for, continuarei.
E quem sabe não acontece o inverso do começo dessa história: a paixão da fotografia me traga
um amor de moça?
Quem sabe. Quanto mais a gente registra a existência, mais pensa sobre ela, compreende e entende
que de futuro, ninguém entende.
Ninguém.

2 comentários:

João Gilberto Saraiva disse...

Creio que um dos melhores textos já postados nesse blog.

Parabéns doutor!

Até mais fio.

Ela disse...

é doutô, cê tá podendo mesmo, viu?
me dá um autográfo?